Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1860

Allan Kardec

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Boletim

SEXTA-FEIRA, 5 DE OUTUBRO DE 1860 (SESSÃO PARTICULAR) Reunião da comissão.

Leitura da ata e dos trabalhos da sessão de 24 de agosto.

Com o parecer da comissão, que tomou conhecimento da carta de solicitação, e após relatório verbal, a Sociedade admite como sócio livre o Sr. B..., negociante em Paris.

Comunicações diversas:

1.º ─ O Sr. Allan Kardec relata o resultado da viagem feita no interesse do Espiritismo e se felicita pelo cordial acolhimento recebido por toda parte e, notadamente, em Sens, Mâcon, Lyon e Saint-Étienne. Por toda parte onde esteve, constatou os consideráveis progressos da Doutrina; mas o que, sobretudo, é digno de nota, é que em parte alguma viu fazerem dela uma distração. Por toda parte dela se ocupam de modo sério e compreendem o seu alcance e as consequências futuras. Sem dúvida ainda há muitos oponentes, dos quais os mais encarniçados são interesseiros, mas os trocistas diminuem sensivelmente. Vendo que seus sarcasmos não trazem os brincalhões para o seu lado, e que estes mais favorecem do que entravam o progresso das crenças novas, começam a compreender que nada ganham e gastam suas energias em pura perda e, por isso, se calam. Uma expressão muito característica aparece, por toda parte, na ordem do dia: O Espiritismo está no ar. Por si só, ela pinta bem o estado de coisas. Mas é sobretudo em Lyon que os resultados são mais notáveis. Ali os espíritas são numerosos em todas as classes e, na classe obreira, eles se contam por centenas. A Doutrina Espírita exerceu entre os operários a mais salutar influência do ponto de vista da ordem, da moral e das ideias religiosas. Em resumo, a propagação do Espiritismo marcha com a mais encorajadora rapidez.

O Sr. Allan Kardec lê o discurso pronunciado pelo Sr. Guillaume, no banquete que os espíritas lioneses lhe ofereceram, e a resposta que ele deu.

Reconhecida pelos testemunhos de simpatia que os confrades de Lyon lhe deram na ocasião, a Sociedade lhes vota uma mensagem de agradecimentos, cujo projeto foi submetido à comissão e por esta emendado. A mensagem será transmitida por intermédio do presidente.

O Sr. Allan Kardec viu em Saint-Étienne o Sr. R... e dele ouviu a exposição do sistema que lhe foi ditado por meio do que ele chama escrita inconsciente. Tal sistema será, posteriormente, objeto de um estudo especial.

Além disso, ele dá conta de um caso muito curioso de obsessão física de uma pessoa de Lyon; de um caso de mediunidade visual, do qual foi testemunha, e de um fenômeno de transfiguração ocorrido nas proximidades de Saint-Étienne, com uma mocinha que em certos momentos tomava a aparência completa de seu irmão, falecido há alguns anos.

2.º ─ Relato de um notável caso de identidade espírita, ocorrido num navio da marinha imperial, estacionado nos mares da China. O fato é relatado por um cirurgião da frota, presente à sessão. Todo mundo no navio, desde os marinheiros até o estado-maior, se ocupava de evocações, mas ninguém conhecia os meios de obter comunicações escritas; assim, serviam-se da tiptologia alfabética. Tiveram a ideia de evocar um tenente, falecido há dois anos. Entre outras particularidades, disse ele: “Peço insistentemente que paguem ao capitão a quantia de... (e designa a soma), que eu lhe devo, e lamento não lha ter podido pagar antes de morrer.” Ninguém conhecia tal circunstância. O próprio capitão se havia esquecido, mas verificando suas contas encontrou menção da dívida do tenente, cuja cifra era perfeitamente idêntica à indicada por seu Espírito.

3.º ─ O Sr. de Grand-Boulogne lê uma encantadora poesia dedicada por ele a seu Espírito familiar.



Estudos:

1.º ─ Perguntas dirigidas a São Luís sobre sua aparição a um médium vidente de Lyon, em presença do Sr. Allan Kardec. Ele responde: “Sim. Era eu mesmo. Era dever de minha missão não abandonar o diretor da Sociedade que eu patrocino.”

Outras perguntas sobre a impressão física produzida em certos médiuns escreventes pelos bons ou maus Espíritos.

2.º ─ Evocação do Sr. Ch. de P..., que encontraram afogado, e cuja morte foi considerada um suicídio. Ele desmente tal opinião, contando as causas acidentais que lhe ocasionaram a morte.

3.º ─ Ditado espontâneo, assinado por Lamennais, recebido pelo Sr. D...

SEXTA-FEIRA, 12 DE OUTUBRO DE 1800 (SESSÃO GERAL) Reunião da comissão.

Presidência do Sr. Jobard, de Bruxelas, presidente honorário.

Leitura da ata e dos trabalhos da sessão de 5 de outubro.

Comunicações diversas:

1.º ─ Leitura de várias comunicações recebidas pela Sra. Schm...: Os Órfãos, assinado por Jules Morin. Outras, assinadas por Alfred de Musset; a rainha de Ouda, por Nicolas.

2.º ─ Leitura de um ditado espontâneo, assinado por São Luís, recebido pelo Sr. Darcol, com vários conselhos aos espíritas.

3.º ─ Carta ao Sr. Allan Kardec, pelo Sr. J..., de Terre-Noire, sobre a impressão penosa que lhe produziu a exposição do sistema do Sr. R...



Estudos:

1.º ─ Evocação de Saul, rei dos Judeus. Declara que não é ele que se comunica com a Srta. B. O Espírito que se manifesta com tal nome havia ensinado no círculo dessa senhorinha um sistema particular cujos pontos principais são: 1.º ─ Os Espíritos são tanto mais esclarecidos quanto mais antiga sua existência terrena, de onde se segue que, por exemplo, São Luís é menos adiantado que ele, porque morreu há menos tempo; 2.º ─ Os Espíritos só se encarnam na Terra, e o número dessas encarnações é de três, nem mais nem menos, o que basta para levá-los do grau mais baixo ao mais alto.

Tendo o Sr. Allan Kardec combatido esta teoria como irracional e desmentida pelos fatos, o Espírito tinha insistido em fazê-lo mudar de ideia. Evocado, não pôde sustentar sua teoria, mas não se considera vencido e pede para ser ouvido em outra sessão íntima e por seu médium habitual.

NOTA: Realizada a sessão alguns dias depois, o Espírito persistiu em dizer-se Saul, rei dos Judeus. Mas, apertado por perguntas, deu provas da mais absoluta ignorância, dizendo, por exemplo, que a encarnação só se dá na Terra, porque esta é o único globo sólido. Em sua opinião, todos os outros planetas são globos fluídicos e não poderiam servir de habitação a seres corpóreos. Quando se lhe contestou a teoria, pelo fenômeno dos eclipses do Sol, sustentou que jamais o Sol foi eclipsado por Mercúrio e Vênus no que, aliás, nem sempre os astrônomos tinham estado de acordo.

Este fato prova, mais uma vez, que os Espíritos estão longe de ter a ciência infusa e quanto é preciso se pôr em guarda contra os sistemas que, por amor próprio, alguns procuram impor, através de algumas bonitas máximas de moral.

Este, a despeito de sua jactância, mostrou o seu ponto fraco com a ridícula teoria dos corpos planetários e demonstrou que, em vida, devia ser menos instruído que o mais atrasado estudante, o que não significa muito, em relação a seu adiantamento. Quando esses Espíritos encontram ouvintes que acolhem suas palavras com uma confiança muito cega, eles se aproveitam disso, mas serão tanto menos encontrados quanto mais nos penetrarmos da certeza de que é preciso submeter todas as comunicações ao severo controle da lógica e da razão. Quando esses Espíritos pseudo-sábios virem que ninguém mais se ilude com os nomes respeitáveis que eles se atribuem, e que não podem impor suas utopias, compreenderão que perdem seu tempo e se calarão.

2.º ─ Evocação do Espírito que se comunica com Sr. R... e que também lhe ditou um sistema completo. Tal estudo será feito posteriormente.

3.º ─ Ditado espontâneo recebido pelo Sr. D... sobre a ciência infusa, assinado por São Luís. Essa comunicação parece ter sido provocada pelos assuntos de que se ocuparam durante a sessão.

4.º ─ Desenho obtido pela Srta. J... e assinado por Ary Scheffer.

5.º ─ Evocação de Nicolas pela Srta. J... Como de hábito ele se manifesta violento, e diz: “Pedir-me calma é pedir que eu não seja eu. Como vedes, ainda queimo. É que o sopro da batalha subiu até mim”.

Interrogado quanto à razão por que se mostrou tão calmo com a Sra. Sch..., responde: Eu tinha tomado um intérprete para não quebrar esta frágil criatura; pude ter belos e bons pensamentos, mas não pude escrevê-los eu mesmo.

Um outro Espírito manifesta-se espontaneamente através da Srta. J... Por sua extrema suavidade, por sua escrita calma, correta e quase moldada, que contrasta de maneira tão notável com a escrita nervosa, angulosa e impaciente de N..., a médium crê reconhecer João Batista, que várias vezes se manifestou dessa maneira. Ele fala da eficácia da prece e lembra as profecias do Apocalipse, que hoje encontram sua aplicação.

SEXTA-FEIRA, 19 DE OUTUBRO DE 1860 (SESSÃO PARTICULAR) Reunião da comissão

Leitura da ata e dos trabalhos da última sessão.

Por indicação da comissão e depois de relatório verbal, são admitidos como sócios livres o Sr. G..., negociante em Paris, e o Sr. D..., funcionário dos correios.

Comunicações diversas:

1.º ─ Leitura de uma comunicação recebida pela Sra. Sch..., de seu irmão. É notável pela elevação dos pensamentos e prova a afeição que os Espíritos conservam por aqueles que amaram na Terra.

2.º ─ A Sra. Desl... lê a evocação de uma antiga empregada falecida quando a serviço de sua família. Essa evocação, na qual o Espírito prova o seu apego e os seus bons sentimentos, oferece uma notável particularidade na forma da linguagem, que é, em todos os pontos, semelhante à da gente do campo, e na qual o Espírito conservou até as expressões que lhe eram familiares.

3.º ─ Caso de identidade relativo ao Espírito do Sr. Charles de P..., evocado na sessão de 5 de outubro. A pessoa a quem se havia manifestado em Bordéus, e que o tinha evocado novamente nos primeiros dias deste mês, soube, por seu intermédio, que o haviam chamado na Sociedade, onde tinha confirmado o que lhe dissera a respeito da causa acidental de sua morte. Pouco depois essa pessoa recebeu carta do Sr. Allan Kardec, transmitindo detalhes da evocação feita na Sociedade.

4.º ─ Relato de diversos casos de aparições vaporosas e tangíveis, e de transporte de objetos materiais, ocorridos com o Sr. de St.-G..., presente à sessão, bem como a uma de suas parentas. Esses casos serão objeto de exame ulterior.

Estudos:

1.º ─ Evocação do Espírito que se manifestou visivelmente ao Sr. de St.-G... Ele dá algumas explicações, mas declara que prefere comunicar-se por intermédio de seu médium habitual.

2.º ─ Evocação de um Espírito que toma o nome de Balthazar e se revelou espontaneamente à Srta. H..., mostrando disposições gastronômicas. Esta evocação oferece um grande interesse do ponto de vista do estudo dos Espíritos não desmaterializados, e que conservam os instintos da vida terrena.

3.º ─ Três ditados espontâneos recebidos: o primeiro pelo Sr. Didier filho, sobre o Cristianismo, assinado por Lamennais; o segundo pela Sra. Costel, sobre os Espíritos inferiores, assinado por Delphine de Girardin; o terceiro pela Srta. Huet: o Beijo de Paz, parábola assinada por Channing.

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