Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1860

Allan Kardec

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Senhorita Indermuhle, surda-muda de nascença, 32 anos, vida.


1. (A São Luís): ─ Podemos entrar em comunicação com o Espírito da Senhorita Indermuhle? ─ Podeis.


2. Evocação. ─ Aqui estou, e o afirmo em nome de Deus.


3. (A São Luís): ─ Podeis dizer se o Espírito que nos responde é mesmo o da Senhorita Indermuhle? ─ Posso afirmar e vo-lo afirmo. Estais mais adiantados e credes que se fosse útil que outro respondesse em seu lugar, isto seria mais embaraçoso? A afirmação vos prova que ela está aqui. Cabe-vos garantir uma boa comunicação pela natureza e pelo móvel de vossas perguntas.


3-A[1]. ─ Sabeis bem onde vos encontrais agora? ─ Perfeitamente. Pensais que eu não tenha sido instruída a respeito?


4. Como podeis responder-nos aqui, se vosso corpo está na Suíça? ─ Porque não é o corpo que responde. Aliás, como bem sabeis, ele é perfeitamente incapaz de fazê-lo.


5. ─ Que faz vosso corpo neste momento? ─ Cochila.


6. ─ Está com saúde? ─ Excelente.


OBSERVAÇÃO: O irmão da Senhorita Indermuhle, que se achava presente, confirmou que realmente ela estava com saúde.


7. ─ Quanto tempo levastes para vir da Suíça até aqui? ─ Um tempo inapreciável para vós.


8. ─ Vistes o caminho percorrido? ─ Não.


9. ─ Estais surpresa por vos achardes nesta reunião? ─ Minha primeira resposta vos prova que não.


10. ─ Que aconteceria se vosso corpo despertasse, enquanto estais aqui? ─ Eu lá estaria.


11. ─ Existe um laço qualquer entre o vosso Espírito, que está aqui, e o corpo que lá está? ─ Sim. Sem isto, quem lhe advertiria que devo voltar a ele?


12. ─ Vede-nos bem distintamente? ─ Sim, perfeitamente.


13. ─ Compreendeis que nos possais ver, mas que não vos vejamos? — Mas, sem dúvida.


14. ─ Ouvis o ruído que, batendo, produzo no momento? ─ Aqui não sou surda.


15. ─ Como vos dais conta, desde que, por comparação, não tendes lembrança do ruído em estado de vigília? ─ Eu não nasci ontem.


OBSERVAÇÃO: A lembrança da sensação do ruído lhe vem das existências em que não era surda. Esta resposta é perfeitamente lógica.


16. ─ Escutaríeis música com prazer? ─ Com tanto mais prazer quão longo o tempo que isso não me acontece. Cantai algo para mim.


17. ─ Lamentamos não poder fazê-lo agora, e que não haja aqui um instrumento para vos proporcionar este prazer. Parece-nos porém que desprendendose todos os dias durante o sono, vosso Espírito deve transportar-se a lugares onde podeis ouvir música. ─ Isto me acontece muito raramente.


18. ─ Como podeis responder em francês, desde que sois alemã e ignorais a nossa língua? ─ O pensamento não tem língua. Eu o transmito ao guia do médium, que o traduz para a língua que lhe é familiar.


19. ─ Qual é esse guia de que falais? ─ Seu Espírito familiar. É sempre assim que recebeis comunicações de Espíritos estrangeiros, e é assim que os Espíritos falam todas as línguas.


OBSERVAÇÃO: Desta maneira, muitas vazes as respostas só nos chegariam de terceira mão. O Espírito interrogado transmite o pensamento ao Espírito familiar, esse ao médium e o médium o traduz, falando ou escrevendo. Ora, podendo o médium ser assistido por Espíritos mais ou menos bons, isto explica como, em muitas circunstâncias, o pensamento do Espírito interrogado pode ser alterado. Assim, no começo, São Luís disse que a presença do Espírito evocado nem sempre basta para assegurar a integridade das respostas. Cabe-nos avaliar e julgar se são lógicas e estão em consonância com a natureza do Espírito. Aliás, segundo a Senhorita Indermuhle, esta tríplice fieira só ocorreria com Espíritos estrangeiros.


20. ─ Qual a causa da enfermidade que vos afetou? ─ Uma causa voluntária.


21. ─ Por que singularidade sois seis irmãos e irmãs igualmente afetados? ─ Pelas mesmas causas que eu.


22. ─ Assim, foi voluntariamente que todos escolhestes a mesma prova? Pensamos que esta reunião na mesma família deve ter ocorrido como uma prova para os pais. É uma boa razão? ─ Ela se aproxima da verdade.


23. ─ Vedes aqui o vosso irmão? ─ Que pergunta!


24. ─ Estais contente de vê-lo? ─ Mesma resposta. OBSERVAÇÃO: Sabe-se que os Espíritos não gostam de repetir. Nossa linguagem para eles é tão lenta que evitam tudo quanto lhes parece inútil. Eis um ponto que caracteriza os Espíritos sérios. Os levianos, zombadores, obsessores e pseudo-sábios geralmente são faladores e prolixos. Como os homens a quem falta base, falam para nada dizer; as palavras substituem os pensamentos, que julgam impor pelas frases redundantes e por um estilo pedante.


25. ─ Gostaríeis de dizer-lhe alguma coisa? ─ Peço-lhe que receba a expressão dos meus sinceros agradecimentos pelo bom pensamento que teve de me fazer chamar até aqui, onde muito felizmente me acho em contato com bons Espíritos, embora veja alguns que não valem muito. Ganhei em instrução e não esquecerei o que lhe devo.


  • [1] O número 3 está repetido no original. (N. do T.)

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