Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1860

Allan Kardec

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Parábola

Em sua última travessia, um velho navio foi assaltado por terrível tempestade. Além de grande número de passageiros, transportava uma porção de mercadorias estrangeiras ao seu destino, acumuladas pela avareza e cupidez de seus donos. O perigo era iminente. Reinava a bordo a maior desordem. Os chefes se recusavam a lançar a carga fora. Suas ordens eram ignoradas, pois tinham perdido a confiança da equipagem e dos passageiros. Era necessário pensar em abandonar o navio. Puseram três embarcações no mar. Na primeira, a maior, precipitaram-se, aturdidos, os mais impacientes e os mais inexperientes, que se apressaram a remar na direção da luz que avistavam ao longe, na costa. Caíram nas mãos de uma horda de náufragos, que os despojou dos objetos preciosos que tinham recolhido às pressas e os maltratou sem piedade.

Os segundos, mais perspicazes, souberam distinguir um farol libertador em meio às luzes enganadoras que iluminavam o horizonte. Confiantes, lançaram o barco ao capricho das ondas e foram arrebentar-se nos arrecifes, ao pé do farol, do qual não haviam tirado os olhos. Foram tanto mais sensíveis à sua ruína e à perda de seus bens, quanto haviam entrevisto a salvação.

Os terceiros, pouco numerosos, mas sábios e prudentes, guiaram com cuidado o frágil barco em meio aos escolhos, e salvaram corpos e bens, sem outro mal além da fadiga da viagem.

Não vos contenteis, portanto, em vos guardardes contra os faróis dos náufragos, contra os maus Espíritos, mas sabei evitar o erro dos viajantes indolentes, que perderam seus bens e naufragaram no porto. Sabei guiar vosso barco em meio aos escolhos das paixões, e abordareis com felicidade o porto da vida eterna, ricos das virtudes que tiverdes adquirido em vossas viagens.

SÃO VICENTE DE PAULO

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