Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1863

Allan Kardec

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(Sociedade espírita de Paris, 20 de novembro de 1863 - Médium: Sra. Costel)

O dever é a obrigação moral, inicialmente diante de si mesmo e em seguida diante dos outros. O dever é a lei da vida e se acha nos mais ínfimos detalhes, tanto quanto nos atos elevados. Não vou aqui falar senão do dever moral, e não do que as profissões impõem.

Na ordem dos sentimentos, o dever é muito difícil de cumprir, porque ele se acha em antagonismo com as seduções do instinto e do coração. Suas vitórias não têm testemunhas e suas derrotas não têm repressão.

O dever íntimo do homem é entregue ao seu livre-arbítrio. O aguilhão da consciência, esse guardião da probidade interior, o adverte e o sustenta, mas, muitas vezes fica impotente ante os sofismas da paixão.

O dever do coração fielmente observado eleva o homem, mas esse dever, como precisá-lo? Onde ele começa? Onde ele acaba? Ele começa exatamente no ponto onde ameaçais a felicidade e o repouso do próximo, e termina no limite que não queríeis ver transposto contra vós mesmos.

Deus criou todos os homens iguais para a dor. Pequenos ou grandes, ignorantes ou esclarecidos, sofrem pelas mesmas causas, a fim de que cada um julgue judiciosamente o mal que pode fazer. O mesmo critério não existe para o bem, infinitamente mais variado em suas expressões. A igualdade perante a dor é uma sublime previdência de Deus, que quer que seus filhos, instruídos pela experiência comum, não cometam o mal, alegando a ignorância de seus efeitos.

O dever é o resumo prático de todas as especulações morais; é uma bravura da alma que afronta as angústias da luta; é austero e simples, pronto a dobrar-se às complicações diversas, e fica inflexível ante as suas tentações.

O homem que cumpre o seu dever ama Deus mais que as criaturas, e as criaturas mais que a si mesmo. Ele é, ao mesmo tempo, juiz e escravo em causa própria.

O dever é o mais belo laurel da razão. Ele origina-se dela, como o filho descende de sua mãe. O homem deve amar o dever, não porque preserve dos males a vida, dos quais a Humanidade não pode subtrair-se, mas porque dá à alma o necessário vigor para o seu desenvolvimento.

O homem não pode afastar o cálice de suas provações. O dever é penoso nos seus sacrifícios, e o mal é amargo nos seus resultados, mas essas dores, quase iguais, têm conclusões muito diferentes: uma é salutar como os venenos que restauram a saúde e a outra é nociva, como os festins que arruínam o corpo.

O dever cresce e irradia sob uma forma mais elevada em cada uma das etapas superiores da Humanidade.

A obrigação moral da criatura para com Deus jamais cessa. Ela deve refletir as virtudes do Eterno, que não aceita um esboço imperfeito, porque quer que a beleza de sua obra resplandeça diante dele.

LÁZARO

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