Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1864

Allan Kardec

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Glória a Deus, soberano senhor de todas as coisas!

Senhor, nós vos pedimos espalheis vossa santa bênção sobre esta assembleia.

Nós vos glorificamos e vos agradecemos porque vos aprouve iluminar nosso caminho pela divina luz do Espiritismo.

Graças a essa luz, a dúvida e a incredulidade desapareceram do nosso espírito e também desaparecerão deste mundo; a vida futura é uma realidade, e nós caminhamos sem incertezas para o futuro que nos está reservado.

Nós sabemos de onde viemos, para onde vamos e por que estamos na Terra.

Conhecemos a causa de nossas misérias e compreendemos que tudo é sabedoria e justiça em vossas obras.

Sabemos que a morte do corpo não interrompe a vida do Espírito, mas que ela lhe abre a verdadeira vida; que ela não rompe nenhuma afeição sincera; que aqueles que nos são caros não estão perdidos para nós e que os encontraremos no mundo dos Espíritos. Nós sabemos que enquanto esperamos, eles estão junto de nós; eles nos veem e nos ouvem e podem continuar suas relações conosco.

Ajudai-nos, Senhor, a espalhar entre os nossos irmãos da Terra que ainda estão na ignorância, os benefícios desta santa crença, porque ela acalma todas as dores, consola os aflitos e lhes dá coragem, resignação e esperança nas maiores amarguras da vida.

Dignai-vos estender vossa misericórdia sobre os nossos irmãos mortos e sobre todos os Espíritos que se recomendam às nossas preces, seja qual for a crença que tenham tido na Terra.

Fazei que o nosso pensamento benevolente leve alívio, consolação e esperança aos que sofrem.

A seguir o Presidente dirige a seguinte alocução aos Espíritos:

Caros Espíritos de nossos antigos colegas Jobard, Sanson, Costeau, Hobach e Poudra,

Convidando-vos a esta reunião comemorativa, nosso objetivo não é apenas vos dar uma prova de nossa lembrança que, bem sabeis, é sempre cara à nossa memória; vimos, sobretudo, felicitar-vos pela posição que ocupais no mundo dos Espíritos e vos agradecer as excelentes instruções que de vez em quando nos vindes dar, desde a vossa partida.

A Sociedade se rejubila por vos saber felizes. Ela se sente honrada por vos haver contado entre os seus membros e de vos contar agora entre os seus conselheiros do mundo invisível.

Temos apreciado a sabedoria de vossas comunicações e nos sentiremos felizes todas as vezes que tiverdes a bondade de vir participar de nossos trabalhos.

A este testemunho de gratidão associamos todos os bons Espíritos que habitualmente ou eventualmente vêm trazer-nos o tributo de suas luzes: João Evangelista, Erasto, Lamennais, Georges, François-Nicolas-Madeleine, Santo Agostinho, Sonnet, Baluze, Vianney, cura d’Ars, Jean Raynaud, Delphine de Girardin, Mesmer, bem como aqueles que apenas tomam a qualificação de Espírito.

Devemos um tributo particular de reconhecimento ao nosso guia e presidente espiritual, que na Terra foi São Luís. Nós lhe agradecemos por ter tomado a nossa sociedade sob seu patrocínio e pelas provas evidentes de proteção que ele nos tem dado. Nós lhe rogamos, igualmente, que nos assista nesta circunstância.

Nosso pensamento se estende a todos os adeptos e apóstolos da nossa doutrina que deixaram a Terra, e especialmente aos que nos são pessoalmente conhecidos, a saber: N. N...

A todos aqueles a quem Deus permite venham ouvir-nos, dizemos:

Caros irmãos em crença que nos precedestes no mundo dos Espíritos, nós nos unimos em pensamento para vos dar um testemunho de simpatia e chamar sobre vós as bênçãos do Todo-Poderoso.

Nós lhe agradecemos a graça que ele vos concedeu de serdes esclarecidos pela luz da verdade antes de deixardes a Terra, porque essa luz vos guiou na vossa entrada na vida espiritual. A fé e a confiança em Deus que ela vos deu, vos preservou da perturbação e das angústias que seguem a separação daqueles a quem a dúvida e a incredulidade afligem.

Ela vos deu a coragem e a resignação nas provas da vida terrena; ela vos mostrou o objetivo e a necessidade do bem e as consequências inevitáveis do mal, e agora colheis os seus frutos.

Deixastes a Terra sem pesar, sabendo que íeis encontrar bens infinitamente mais preciosos do que aqueles que aqui deixáveis. Vós a deixastes com a firme certeza de reencontrar aqueles que foram objeto de vossa afeição, e de poder voltar, em Espírito, para sustentar e consolar os que deixáveis na Terra. Enfim, estais no mundo dos Espíritos, como num país que vos era conhecido por antecipação.

Estamos muito felizes por termos visto nossas crenças confirmadas por todos aqueles dentre vós que vieram comunicar-se. Nenhum veio dizer que tinha sido iludido em suas esperanças, e que nos iludíamos sobre o futuro, mas, ao contrário, todos disseram que o mundo invisível tinha esplendores indescritíveis, e que suas esperanças tinham sido ultrapassadas.

Cabe agora a vós, que gozais da felicidade de ter tido fé, e que recebeis a recompensa de vossa submissão à lei de Deus, vir em auxílio àqueles dentre vossos irmãos da Terra que ainda se encontram nas trevas. Sede os missionários do Espírito de Verdade, para o progresso da Humanidade e para o cumprimento dos desígnios do Altíssimo.

Nosso pensamento não é dirigido apenas aos nossos irmãos em Espiritismo, pois todos os homens são irmãos, seja qual for a sua crença.

Se fôssemos exclusivistas não seríamos espíritas nem cristãos. É por isto que envolvemos em nossas preces, em nossas exortações e em nossas felicitações, conforme o estado em que se achem, todos os Espíritos aos quais nossa assistência pode ser útil, tenham ou não partilhado, em vida, de nossas crenças.

O conhecimento do Espiritismo não é indispensável à felicidade futura, porque não tem o privilégio de fazer eleitos. É um meio de chegar mais facilmente e mais seguramente ao objetivo, pela fé racionada que ele dá e pela caridade que ele inspira. Ele ilumina o caminho, e o homem, não mais seguindo às cegas, marcha com mais segurança. Por ele, melhor se compreende o bem e o mal. Ele dá mais força para praticar um e evitar o outro. Para ser agradável a Deus, basta observar suas leis, isto é, praticar a caridade, que resume todas elas. Ora, a caridade pode ser praticada por todos. Despojar-se de todos os vícios e de todas as inclinações contrárias à caridade é, pois, condição essencial da salvação.

Após esta alocução, foram ditas preces especiais para cada categoria de Espíritos, com a designação nominal daqueles a quem eram dedicadas. Elas foram tiradas, em parte, da Imitação do Evangelho. A série de preces terminou pela Oração Dominical desenvolvida. (Vide a Revista de agosto de 1864.)

Em seguida os médiuns se puseram à disposição dos Espíritos que quiseram manifestar-se. Não foi feita nenhuma evocação particular.

Damos abaixo as principais comunicações recebidas:


I


Meus filhos, uma estreita comunhão liga os vivos aos mortos. A morte continua a obra esboçada e não rompe os laços do coração. Esta certeza enriquece o tesouro de amor derramado na Criação.

Os progressos humanos obtidos a preço de sacrifícios dolorosos e de hecatombes sangrentas aproximam o homem do Verbo Divino e lhe fazem soletrar a palavra sagrada que, caída dos lábios de Jesus, reanimou a Humanidade desfalecente. O amor é a lei do Espiritismo; ele dilata o coração e faz amar ativamente aqueles que desaparecem na vaga penumbra do túmulo.

O Espiritismo não é um som vão, caído dos lábios mortais e levados por um sopro. Ele é a fé poderosa e severa proclamada por Moisés no Monte Sinai, a fé afirmada pelos mártires, ébrios de esperança, a lei discutida pelos filósofos inquietos e que, enfim, os Espíritos vêm proclamar.

Espíritas! O grande nome de Jesus deve flutuar como uma bandeira acima de vossos ensinos. Antes que fôsseis, o Salvador levava a revelação em seu seio, e sua palavra, medida prudentemente, indicava cada uma das etapas que hoje percorreis. Os mistérios cairão ao profético sopro que vos abre as inteligências, como outrora as muralhas de Jericó.

Uni-vos pela intenção, como fazeis nesta reunião abençoada. A tépida eletricidade desprendida do coração vence a distância que nos separa e dissipa os vapores da dúvida, da personalidade, da indiferença, que muitas vezes obscurece a faculdade espiritual.

Amai e orai por vossas obras.

JOÃO EVANGELISTA

(Médium: Sra. Costel)


II

Meus bons amigos, vossas preces e vosso recolhimento atraíram para junto de vós numerosos Espíritos aos quais fizestes muito bem. Uma reunião como a vossa tem uma força de atração de tal modo eficaz que as vibrações de vosso pensamento comoveram todos os pontos do espaço. Uma multidão de irmãos vossos, pouco adiantados ou em sofrimento, seguiu os Espíritos superiores. Antes de vos ouvir, eles estavam sem fé; agora esperam e creem. Suas vozes, unidas à minha, de agora em diante saberão abençoar-vos. Eles vos sabem fortes ante as provações. Como vós, eles quererão merecer a vida eterna, a vida de Deus.

Não esquecestes ninguém, caro presidente. Por mim pessoalmente, estou orgulhoso pelo bom acolhimento que meu nome recebe entre os antigos condiscípulos. Sempre ouvi dizer que um curioso, escutando à porta, jamais ouviu o seu elogio; entretanto somos testemunhas invisíveis; nosso número é infinito; o que ouvimos, ao contrário da moda terrena, é o perdão, a prece, a benevolência; é a prática da caridade, a mais nobre das divisas.

Possa o vosso exemplo espalhar-se como um eco amado, a fim de que todos os Espíritos em sofrimento possam, em qualquer parte, ouvir palavras que poderão guiá-los para as verdades eternas!

Diz-se que Paris é uma cidade de barulho e esquecimento. Os místicos afirmam que é uma Babilônia moderna. Bem alto eu protesto, porque Paris é a cidade dos pensamentos laboriosos, das ideias fecundas e dos nobres sentimentos. É a cidade que irradia sobre o Universo; será sempre ela que ensinará os grandes princípios, as grandes abnegações e as sólidas virtudes.

Observai bem esta grande cidade neste dia em que cada um tem uma lágrima para seus caros ausentes. Ela pôs de lado sua vida múltipla para ir recolher-se nas necrópoles, e esse rio humano, silencioso, circunspecto, vai orar sobre os restos dos que lhe foram caros, e ante esse piedoso cortejo, o próprio incrédulo é tomado de respeito.

Diz-se que Paris não é espírita. Procurai uma cidade no Universo, onde o mais modesto túmulo seja mais venerado, mais florido. É que a cidade dos grandes nascimentos sente melhor as perdas dolorosas; ela chora verdadeiras lágrimas e não se importa com a aparência. Paris é, sem dúvida, uma cidade de prazeres para certas pessoas, mas é, também, a cidade do trabalho e do pensamento para o maior número. Ela não é fundamentalmente materialista. É ela que dá a luz espírita ao Universo e essa luz voltará para ela, aumentada e depurada. Todos os povos virão buscar entre vós as verdades do Espiritismo, muito preferíveis aos fúteis e vãos prazeres ou às exibições que nada deixam ao espírito.

Há no ar uma ideia racional aprovada por todas as pessoas progressistas. É a ideia de que todos deveriam saber ler. Nossa doutrina, por mais bela que seja, encontra um obstáculo na ignorância. Assim, o nosso dever, de todos nós espíritas, é diminuir o número de nossos irmãos ignorantes, a fim de que o Livro dos Espíritos não continue sendo letra morta para tantos párias. Trabalhar a fim de espalhar a instrução nas massas é abrir caminhos para o Espiritismo, ao mesmo tempo que é destruir o elemento do fanatismo; é diminuir outro tanto os arrastamentos da ignorância; é criar homens que viverão e morrerão bem.

Realizado esse grande ato de caridade, não terei mais a dor de ver voltarem, neste dia dos mortos, tantos Espíritos atrasados que pedem a reencarnação para saber, e para realizar a missão prometida às suas novas faculdades. E esses Espíritos, tornados inteligentes, poderão, por sua vez, ir a outros mundos ensinar e dar o pão da vida, o saber que torna digno de Deus.

Ao redor de vós, legiões de ignorantes vos imploram. São os vossos mortos. Não esqueçais o que eles pedem. Vossas preces lhes serão úteis, mas vossas ações são requisitadas para prestar-lhes um serviço mais essencial.

Adeus, irmãos.

Vosso devotado condiscípulo,

SANSON

(Médium: Sr. Leymarie)


III

Dia de felicidade para os Espíritos do Senhor, que se grupam para dirigir a Deus preces pelos Espíritos, porque esta santa comunhão de pensamentos se reproduz, também, nas regiões superiores! Oh! Sim, felizes os pobres deserdados que compreenderem o objetivo de nossas preces dirigidas para lhes apressar o progresso! Graças ao Espiritismo, muitos já entraram na via do arrependimento e puderam melhorar-se. É esta graça descida do Céu sobre a Terra que lhes abriu o coração aos pesares e lhes deu a esperança de vir um dia para junto de nós. Obrigado a vós todos, espíritas cristãos, por haverdes pedido a Deus e obtido que pudéssemos vir para dizer-vos: Coragem! Os Espíritos que vêm agradecer-vos por este bom pensamento o aproveitaram e hoje se sentem muito felizes.

Direi particularmente a meu bom amigo Canu: Ficai feliz em pensar que o vosso amigo Hobach é ele mesmo, e que aqui está cercado de Espíritos amigos e protetores que vêm, atraídos pela simpatia, elevar suas almas ao Criador, porque tudo vem dele e a ele deve voltar. Procuremos pois sempre as reuniões sinceras, a fim da tirar proveito dos ensinamentos que aí são dados, e que os invisíveis e os encarnados possam progredir para o infinito, isto é, para o ser supremo que nos criou para o bem e para a marcha progressiva de suas obras. Sim, mil vezes obrigado, pois leio em todos os corações os sentimentos daqueles que nos amaram particularmente; mas, também, que aqueles que choram enxuguem suas lágrimas, porque eles virão encontrar-nos num mundo melhor, onde a lei de justiça reina soberana, porque lá ela emana de Deus.

HOBACH

(Médium: Sra. Patet)


IV

Amigos e irmãos em Espiritismo, estais hoje reunidos para dirigir ao Senhor votos e preces por Espíritos que vos são caros e que aqui cumpriram a sua missão. Muitos dentre eles, meus caros amigos, realizaram essa tarefa dignamente e receberam a recompensa de seu trabalho nessa vida de expiação e de miséria. Oh! meus caros espíritas! Esses velam por vós; eles vos protegem e hoje participam dos vossos votos e das súplicas que dirigis ao nosso Pai comum. Na maioria estão entre vós, felizes por verem o recolhimento em que estais neste momento solene.

Mas é sobretudo para os Espíritos que não compreenderam sua missão neste mundo de passagem que devem elevar-se os vossos pensamentos e as vossas preces. Oh! Esses necessitam que corações amigos, que almas compassivas lhes deem uma lembrança, uma prece, mas uma prece sincera, uma prece que suba ao trono do Eterno! Ah! Quantos desses Espíritos são abandonados, esquecidos, mesmo por aqueles que deveriam neles mais pensar, por parentes por vezes muito próximos! É que esses, meus amigos, não são espíritas; é que eles não conhecem o efeito que sobre o Espírito pode produzir a ação das preces. Não, eles não conhecem a caridade; eles não acreditam numa outra existência depois desta; eles creem que a morte nada deixa depois dela.

Quantos, nestes dias de luto, com o coração frio e seco, vão aos túmulos dos que conheceram! Eles lá vão, mas por hábito, por conveniência; sua alma não sente nenhuma esperança; eles nem mesmo imaginam que essas almas para as quais eles vêm render uma homenagem lá estão, perto deles, e deles esperando uma prece vinda do coração.

Oh! Meus amigos, fazei vós, por vossas preces, o que não fazem os vossos irmãos.

Eles não veem na morte senão os despojos, o corpo, e esquecem que a alma vive para sempre. Orai, porque vossas preces serão ouvidas pelo Altíssimo.

Um Espírito que pede também uma participação em vossas preces,

LALOUZE

(Médium: Sra. Lampérière)


V


Caros amigos, quantas ações de graças não vos devemos em troca de vossas boas e generosas preces!

Oh! sim. Somos reconhecidos por tanto devotamento, tanta caridade. Em tempo algum preces tão calorosas, tão fervorosas, foram escutadas e levadas sobre as asas brancas dos Espíritos puros ao trono divino. Em tempo algum os homens compreenderam melhor a utilidade da prece em comum, cuja força moral pesa sobre os Espíritos imperfeitos que vêm, cada vez que vos reunis, haurir em vosso ambiente generoso e fraternal, porque aqui não há distinção; os pequenos, os deserdados da Terra são recebidos por vós como os grandes, como os príncipes; orais pelo pobre, como pelo rico. Oh! fraternidade divina, cresce, cresce continuamente, até que atinjas o sublime Regenerador, que te envia para conduzir os homens no caminho reto do qual se haviam afastado há tantos séculos!

Batei e abrir-se-vos-á, dizia Jesus; pedi e dar-se-vos-á. Sim, batei sobre as vossas paixões, e o raio da caridade divina inundará vossa alma. Pedi a fé e ela virá para vós. Pedi a paciência e ela vos será concedida. Numa palavra, pedi todas as virtudes necessárias para vos despojardes do homem velho que deve desaparecer para sempre e dar lugar ao homem de bem.

Sou um Espírito para vós desconhecido, e tomei esta mão graças à caridade de São José.

(Médium: Sr. Lampérière)


VI

Minha mui querida esposa, eu vi teus suspiros e tuas lágrimas. Sempre chorar! Também vi tuas preces. Deixa-me que as agradeça. Vamos, cara amiga, consola-te. Vês, tu perturbas a minha felicidade. Consola-te, pois, porque és mais feliz que muitas outras: tu tens irmãos que te amam, que ficam felizes por ver-te entre eles. Vê, minha filha, quanto és abençoada entre todas.

Só vos tenho que louvar, meus irmãos, pela boa acolhida que em toda parte é feita à minha esposa. Agradeço-vos por tudo o que fazeis por ela... e ainda que me fazeis a bondade de chamar-me hoje!... Fui dos primeiros a sustentar e propagar com toda a minha força esta santa doutrina. Ah! Se eu tivesse sabido o que sei e vejo agora! Crede, crede, é tudo o que vos posso dizer. Fazei tudo para ensiná-la e para atrair a vós os corações. Nada é mais belo, nada é tão verdadeiro quanto o que ensinam os vossos livros.

COSTEAU

(Médium: Srta. Béguet)



VII

Obrigada a todos, bem-amados irmãos, por vossa boa lembrança e vossas boas preces. Obrigada a vós, caro presidente, pela feliz iniciativa tomada, fazendo orar por todos, numa mesma comunhão de ideias e pensamentos. Sim, estamos todos aqui; ouvimos, felizes, vossas preces sinceras dirigidas ao Pai de misericórdia em favor de cada um de nós. Sim, estamos felizes porque a prece feita com sinceridade sobe a Deus e dele recebemos a força necessária para combater as más influências que os Espíritos levianos tentam fazer sentirem aqueles que trabalham na obra santa. Essas preces foram para nós como um apelo solene, e nós nos achamos todos reunidos ao vosso lado. De longe como de perto, acorremos a esse feliz apelo. É desejável que vosso exemplo seja seguido por todos os centros sérios, porque essas preces, feitas com tanto mais sinceridade e desinteresse, sobem a Deus como santos eflúvios e jorram sobre cada um de nós. Obrigada, portanto, ainda uma vez, meus bons amigos, e posto que meu nome não tenha sido pronunciado, vedes que aqui estou. Isto vos deve provar que somos felizes e numerosos.

A mãe de um membro honorário de vossa Sociedade,

AIMÉE BRÉDARD, de Bordéus

(Médium: Sra. Delanne)


VIII

Meus bons amigos, eu teria preferido, após as preces que acabais de ouvir, e às quais vos associastes de todo coração, eu teria preferido, ia dizendo, ver cada um se retirar no piedoso silêncio que a prece vos deixa no coração. Elevastes vossas almas para Deus, por todos aqueles que partiram da Terra; lançastes suaves lembranças ao passado e, neste momento, não vos sentis mais fortes? Não sentistes, há pouco, enquanto vossas almas subiam ao Céu, num impulso comum, o quente hálito de outras almas misturando suas preces às vossas? Não vos impregnastes delas? Por que não vos recolherdes nesse perfume silencioso do além-túmulo, em vez de pedirnos vozes? Viver com esses doces pensamentos decorrentes dos eflúvios sagrados da prece não é felicidade bastante?

No entanto, eu compreendo que não vos basta essa linguagem muda. Os zéfiros tépidos não são suficientes para o coração amoroso que pede aos ecos uma voz que responda à sua voz. Eu vos perdoo esse desejo, que é bem justo. Por que não poderia cada um de vós haurir um segundo do benefício que lhe concede sua nova fé; de comunicar-se com os que lhe são caros, por intermédio dos médiuns?

Mas, como vossa assembleia é numerosa em relação à pequena quantidade de mãos que podem escrever! Quais de vossos amigos poderão dizer-se quem são os felizes dentre vós que escutarão suas vozes? Vejo um número de Espíritos muito mais considerável do que o número de encarnados aqui presentes. Eles se comprimem em volta de cada um dos nossos intermediários: Georges, Sanson, Costeau, Jobard, Dauban, Paul, Émile, e cem outros cujos nomes não vos posso dizer, aqui estão e gostariam de falar convosco. Eu detenho seus impulsos e a todos digo que eu serei o intérprete entre eles e vós. Eles o querem muito, e vós, caros amigos, desejais também? Eu tratarei de ser seus pais para uns e suas mães para outros; para estes um filho, uma filha, um esposo, uma esposa, e para todos um amigo, um irmão que vos ama e que gostaria que vossos corações, reunidos num só coração, formem um só pensamento, uma só alma respondendo a esta comunicação de espírito concentrada em meu pensamento e em minha alma.

Ah! Vossos caros mortos não esperaram este dia para virem a cada um de vós. Em todos os momentos não os sentis acercando-se de vós e vos dando, por essa voz que chamais consciência, os segredos castos e divinos do dever? Não os sentis aproximarem-se muito em vossas horas de tristeza e de desfalecimento? Eles vos dizem: Coragem! E sobretudo a vós, espíritas, eles vos mostram o céu e as inumeráveis estrelas que rolam sobre o seu azul, em sinal de aliança entre o Senhor e vós.

Não, meus caros amigos, eles não vos deixam pelo pensamento. A ti, mãe, tua filha vem dizer: Eu parti primeiro, como se destaca do tronco vigoroso o galho quebrado pela tempestade, mas vivo ainda de tua seiva e de teu amor na imensidade, e neste rosário de pérolas que a minha alma carrega, não há algumas esmeraldas que me vieram de ti?

Pai, ouço teu filho dizer: Parti para voltar a ajudar-te, em tuas preces, a melhor amar a Deus. Parti porque tua fronte não se inclinava diante do grande dispensador de todas as coisas; ele quis que te lembrasses dele, fazendo-te ouvir as modulações de além-túmulo pela voz de teu filho.

Irmão, ouço teu irmão falar-te das vossas brincadeiras de outrora, de vossas lutas, de vossas alegrias, de vossos sofrimentos. Eu parti para o além antes de ti, diz ele, mas não estou morto. Eu te preparei o caminho: nele se encontra mais glória do que na Terra. Lança fora teu manto de púrpura e veste o burel para fazer a viagem, pois o Senhor ama a pobreza mais do que a riqueza.

Eu escuto suaves suspiros responderem aos vossos suspiros; os do amante responderem à amante; os do esposo à esposa. Bela harmonia!

Rejubilai-vos, pois! Quantas lágrimas felizes! Quantos tocantes impulsos! Esposas, senti vossas mãos pressionadas pelas mãos invisíveis de vossos esposos. A esta hora, eles vêm renovar a promessa de vos amarem para sempre; eles vêm dizervos o que eu mesmo vos disse: que a morte não rompe os laços do coração e que as uniões continuam no além-túmulo.

Como eu gostaria de nomear todos esses mortos queridos, mas não posso. Escutai vós mesmos as suas vozes. Cada um de vós as reconhecerá no concerto sagrado que sobe ao Céu. Elas cantam juntas um canto de ação de graças ao Senhor.

SANTO AGOSTINHO

(Médium: Sr. E. Vézy)


IX

Não podendo o meu médium prestar o seu concurso a todos os Espíritos, venho em substituição a um Espírito que talvez tivesse desejado comunicar-se. Mas, aqui mesmo não estando deslocada a instrução, nesta reunião especialmente dedicada aos ausentes, quero dar-vos alguns conselhos sobre a maneira de proceder para obter respostas realmente emanadas dos Espíritos chamados.

Há aqui muitos médiuns e muitos Espíritos desejosos de se comunicar, entretanto, poucos poderão fazê-lo, porque não terão tido tempo de estabelecer a comunicação fluídica com eles. A identidade das comunicações é coisa difícil de estabelecer, e raramente podeis estar perfeitamente seguros dessa identidade. Contudo, se quisésseis ajudar um pouco os Espíritos, preparando-vos previamente para as evocações, mais frequentemente haveria real identidade. Os fluidos devem ser sempre similares, pois sem essa similitude não há comunicação possível. Mas vós, médiuns, possuís muitos fluidos diversificados, e dentre eles alguns poderiam ser utilizados pelos Espíritos, se lhes fosse dado tempo para influenciá-los.

Geralmente chama-se este ou aquele à queima-roupa, sem tê-lo chamado pelo pensamento, sem lhe haver oferecido o seu aparelho fluídico, sem lhe haver deixado tempo de prepará-lo para soar em uníssono com seus próprios pensamentos. Assim agindo, credes agir corretamente? Não, porque eles são obrigados a utilizar a intermediação dos vossos Espíritos familiares, e naturalmente não podeis reconhecêlos de maneira tão positiva, e sois reduzidos a constatar apenas pensamentos frequentemente muito diferentes dos que eles tinham em vida, sem terdes qualquer particularidade que vos revele sua identidade. Crede-me, quando quiserdes evocar, pensai algum tempo antes naqueles que desejais chamar, e assim lhes oferecereis meios muito melhores de pessoalmente se comunicarem.

Falo em nome de todos aqueles que são familiares e amigos do meu médium, e venho agradecer ao Presidente as palavras plenas de energia que pronunciou para todos. Certamente é prazeroso unir-se a tantos desejos e vontades benevolentes, e nós todos, Espíritos dispostos ao bem e Espíritos instrutores, consideramos um dever cumprir missões que nos são confiadas por ele e por todos os corações espíritas. (Vide adiante a OBSERVAÇÃO acerca do artigo Comunicação espírita – A propósito da Imitação do Evangelho).

UM ESPÍRITO

(Médium: Srta. A. C.)

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