Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1869

Allan Kardec

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A alma


Este livro tende para o mesmo objetivo do precedente: a demonstração da alma, da vida futura, da pluralidade das existências, mas sob uma forma mais didática, mais científica, posto que sempre clara e inteligível para todo mundo. A refutação do materialismo e, em particular, das doutrinas de Büchner e de Maleschott, aí ocupa largo espaço, e não é a parte menos interessante nem a menos instrutiva, pela irresistível lógica dos argumentos. A doutrina desses dois escritores, de um incontestável talento, e que pretendem explicar todos os fenômenos morais só pelas forças da matéria, teve muita repercussão na Alemanha e, por consequência, na França; ela naturalmente foi aclamada com entusiasmo pelos materialistas, felizes por aí encontrarem a sanção às suas ideias; ela recrutou partidários sobretudo entre a juventude das escolas, que delas se valem para se libertar, em nome da aparente legalidade de uma filosofia, do que impõe freio à crença em Deus e na imortalidade.

O autor se ocupa em reduzir ao seu justo valor os sofismas sobre os quais se apoia essa filosofia; demonstra as desastrosas consequências que ela teria para a Sociedade, se algum dia viesse a prevalecer, e sua incompatibilidade com toda doutrina moral. Embora ela quase não seja conhecida senão em determinada esfera, uma refutação de certo modo popular é muito útil, a fim de premunir os que pudessem deixar-se seduzir pelos argumentos especiosos que ela invoca. Estamos persuadidos de que, entre as pessoas que a preconizam, algumas recuariam se tivessem compreendido toda a sua extensão.

Ainda que não fosse senão deste ponto de vista, a obra do Sr. Dyonis mereceria sérios encorajamentos, porque é um campeão enérgico para a causa do Espiritualismo, que é também a do Espiritismo, ao qual se vê que o autor não é estranho. Mas a isso não se limita a tarefa que ele se impôs; ele encara a questão da alma de maneira ampla e completa; ele é um desses que admitem o seu progresso indefinido, através da animalidade, da humanidade e além da humanidade. Talvez, sob certas aspectos, seu livro encerre algumas proposições um pouco aventurosas, mas que é bom trazer à luz, a fim de que sejam amadurecidas pela discussão.

Lamentamos que a falta de espaço não nos permita justificar a nossa apreciação por algumas citações. Limitar-nos-emos à seguinte passagem, e a dizer que os que lerem este livro não perderão seu tempo:

“Se examinamos os seres que se sucederam nos períodos geológicos, notamos que há progresso nos indivíduos dotados sucessivamente de vida, e que o último chegado, o homem, é uma prova irrecusável desse desenvolvimento moral, pelo dom da inteligência transmissível que ele foi o primeiro a receber, e o único de todos os animais.

“Esta perfectibilidade da alma, oposta à imperfectibilidade da matéria nos leva a pensar que a alma humana não é a primeira expressão da alma, mas apenas a última expressão até aqui. Em outros termos, que a alma progrediu desde a primeira manifestação da vida, passando alternativamente pelas plantas, os animálculos, os animais e o homem, para se elevar ainda, por meio de criações de uma ordem superior que os nossos sentidos imperfeitos não nos permitem compreender, mas que a lógica dos fatos nos leva a admitir. A lei de progresso, que seguimos nos desenvolvimentos físicos dos animais sucessivos, existiria, pois, igualmente, e principalmente, em seu desenvolvimento moral.”


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[1] 1 volume in 12; 3,50 francos.


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