Instruções práticas sobre as manifestações espíritas

Allan Kardec

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DO LOCAL
Também não há lugares fatídicos para as comunicações espíritas: devem, entretanto, evitar-se aqueles que são de molde a chocar a imaginação. Os bons Espíritos vão a toda parte onde um coração puro os chama para o bem e os maus não têm predileção senão pelos lugares onde encontram simpatia. Os lugares de sepulcros têm mais influência sobre a nossa mente do que sobre os Espíritos e a experiência demonstra que tanto estes vêm ao quarto mais vulgar e sem aparelho diabólico, quanto aos seus túmulos e às capelas em ruínas, tanto em pleno dia quanto à luz da lua.

Se a escolha do local é indiferente, útil é não mudá-la desnecessariamente. O fluido vital, do qual cada Espírito errante ou encarnado é, de certo modo, um foco, irradia em seu redor pelo pensamento. Compreende-se, pois, que em um local habitual, deve haver um eflúvio desse fluido que aí forma, por assim dizer, uma atmosfera moral com a qual os Espíritos se identificam. Um lugar mesmo consagrado exclusivamente a essa espécie de entretenimentos e que não fosse, por assim dizer, profanado por preocupações vulgares seria ainda preferível, pois que seria um verdadeiro santuário de onde os maus Espíritos estariam excluídos, de vez que os elementos da atmosfera moral aí estariam menos misturados que num lugar banal.

A melhor disposição material é a que for mais cômoda e ocasionar o mínimo de desorganização e de confusão. Nos objetos que constituem a decoração, tudo quanto pode elevar o pensamento e lembrar o assunto de que nos ocupamos é útil. Entretanto é bom que se saiba que toda disposição ou ornamentação que cheira a grimório é absurda e, digamos logo, até perigosa, pelas idéias supersticiosas que naturalmente isto alimenta. Repetimos aqui o que dissemos pouco antes em relação às horas: os que recomendassem tais coisas ou práticas místicas quaisquer são Espíritos inferiores, que se divertem com a credulidade e que, eles próprios, se acham sob o império das idéias que tinham em vida. Dissemos, e nunca seria por demais repetido, que para os Espíritos superiores o pensamento é tudo e a forma, nada. É pelos bons pensamentos que os atraímos e não pelas fórmulas vãs. Os que ligam importância às coisas materiais provam por isso mesmo que ainda se acham sob a influência da matéria. Se, em certa época, as evocações estavam cercadas de mistérios e de símbolos, é que queriam esconder-se do vulgo e dar-se prestígio aos olhos dos ignorantes. Hoje a luz se fez para todos e é em vão que querem pô-la debaixo do alqueire.

Tudo quanto dissemos das reuniões onde se ocupam das comunicações espíritas se aplica naturalmente às comunicações individuais. Por isso não faremos menção especial. Dá-se o mesmo com tudo quanto nos resta examinar. Tomamos como modelo as reuniões, porque estas encerram condições mais complexas, de que cada um poderia fazer aplicação aos casos particulares. Acrescentamos, até, que as reuniões, quando se dão em boas condições, têm uma vantagem: várias pessoas, unidas por um pensamento comum, têm mais força para atrair bons Espíritos que gostam de achar-se num meio simpático, onde podem espargir a luz através de seus ensinamentos. Entretanto há circunstâncias em que eles preferem, e até recomendam as comunicações isoladas. Neste caso, o que de melhor se tem a fazer é conformar-se com os seus desejos.

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