Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1865

Allan Kardec

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A seriedade nas reuniões

(SOCIEDADE DE PARIS, 17 DE MARCO DE 1865 MÉDIUM: SR. DESLIENS)

Como já tendes provas, a atitude séria dos membros de um grupo choca os estranhos que assistem às sessões com a intenção de expô-las ao ridículo. Ela transforma sua vontade de troçar em respeito involuntário, e do respeito ao estudo sério, e consequentemente à fé, a transição é imperceptível. Aliás, aqueles que não saem convencidos dessas reuniões, delas levam, ao menos, uma impressão favorável, e se eles não se ligam a vós imediatamente, pelo menos deixam de ser vossos encarniçados adversários. Eis uma primeira razão que vos deve persuadir a serdes sérios e recolhidos. Que quereis, com efeito, que pensem os que saem de uma reunião onde os assuntos mais dignos de respeito são tratados com leviandade e inconsequência? Ainda que os espíritas que assim procedem estejam longe de ser mal-intencionados, não são menos prejudiciais, não ao futuro, mas ao rápido desenvolvimento da doutrina. Se tivessem sido realizadas apenas reuniões sérias e conduzidas de maneira conveniente, ela estaria ainda muito mais adiantada, embora já o esteja bastante. Agir assim não é agir como verdadeiros espíritas, nem no interesse da doutrina, porque os adversários disso se aproveitam para ridicularizá-la. É, pois, um dever dos que compreendem a sua importância, não prestar apoio a reuniões dessa natureza.

Não é apenas à doutrina que eles prejudicam, é também a si próprios, porque, se toda boa ação traz consigo a recompensa, toda ação leviana deixa atrás de si uma impressão desagradável, por vezes seguida de uma punição física, cuja menor consequência pode ser a suspensão da mediunidade ou, pelo menos, a impossibilidade de comunicar-se com bons Espíritos.

É preciso ser sério, não apenas com os Espíritos benevolentes e esclarecidos, que vêm dar sábias instruções, e que o vosso pouco recolhimento afastaria, mas também com os Espíritos sofredores ou maus que vêm, uns pedir-vos consolações, outros mistificar-vos. Direi mesmo que é sobretudo com estes últimos que é preciso gravidade, embora temperada pela benevolência. É o melhor meio de a eles impor-se e de mantê-los à distância, obrigando-os ao respeito. Se descerdes até a familiaridade com os que vos são inferiores, do ponto de vista moral e intelectual, não tardareis a dar entrada à sua influência perversa, que se traduz, a princípio, por mistificações e mais tarde por cruéis e tenazes obsessões.

Ficai, pois, em guarda. Alterai vossa linguagem conforme a dos Espíritos que se comunicam em vossos grupos, mas que a seriedade e a benevolência jamais sejam excluídas. Não repilais os que se vos apresentam sob aparências imperfeitas. Talvez prefirais sempre comunicações sábias, sobre as quais não vos seja necessário exercer o vosso sentimento e o vosso julgamento para lhes conhecer o valor, mas pensai que o julgamento só se desenvolve pelo exercício. Todas as comunicações têm sua utilidade para aquele que delas sabe tirar proveito. Uma mistificação reconhecida e provada pode agir com mais eficácia sobre as vossas almas, fazendo-vos perceber melhor os pontos a reforçar, do que instruções que vos contentaríeis em admirar sem pôr em prática.

Trabalhai com coragem e sinceridade, e o Espírito do Senhor estará convosco.

MOKI.

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