Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1867

Allan Kardec

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O cura Gassner - Médium curador

No jornal l’Exposition populaire illustrée, número 24, encontramos num artigo intitulado Correspondência sobre os taumaturgos, uma interessante notícia sobre o cura Gassner, quase tão conhecido em seu tempo quanto o príncipe Hohenlohe, por seu poder curador.

“Gassner (Jean-Joseph) nasceu a 20 de agosto de 1727, em Bratz, perto de Bludens (Suábia); fez seus primeiros estudos em Insbruck e em Praga; recebeu as ordens sacerdotais e, em 1758, foi nomeado cura de Kloesterle, no cantão dos Grisons.

“Após quinze anos de vida solitária, revelou-se ao mundo como dotado de um poder excepcional, o de curar todas as doenças pela simples imposição das mãos, e sem empregar nenhum remédio nem exigir remuneração. Os doentes afluíram logo de toda parte, e em tão grande número que, para se pôr em melhores condições de socorrê-los, Gassner solicitou e obteve permissão para se ausentar do curato, e foi sucessivamente a Wolfegg, a Weingarten, a Ravensperg, a Detland, a Kirchberg, a Morspurg e a Constança. Os infelizes lhe faziam cortejo; o corpo médico ergueu-se contra ele. Uns proclamavam suas curas maravilhosas, outros o contestavam.

“O bispo de Constança o constrangeu a um inquérito, feito pelo diretor do seminário. Gassner declarou jamais ter tido o pensamento de fazer milagres e ter-se limitado a aplicar o poder que a ordenação confere a todos os padres de exorcizar, em nome de Jesus Cristo, os demônios que são uma das causas mais frequentes de nossas doenças. Declarou dividir todas as doenças em doenças naturais ou lesões, em doenças de obsessões e em doenças complicadas de obsessões. Dizia que não tinha poder sobre as primeiras e fracassava nas da terceira categoria, quando a doença natural era superior à doença de obsessão.

“O bispo não ficou convencido e ordenou a Gassner que voltasse ao curato, mas pouco depois o autorizou a continuar seus exorcismos. O cura apressou-se em aproveitar a autorização e surpreendeu os habitantes de Elwangen, de Sulzbach e de Ratisbona, pela imensa multidão de doentes que seu renome atraía da Suíça, da Alemanha e da França. O duque de Wurtemberg declarou-se abertamente seu admirador e seu protetor; seus sucessos lhe atraíram poderosos adversários. O célebre Haen e o tiatino Sterzingen atacaram-no com perseverança e paixão; vários bispos prestaram apoio ao fogoso tiatino e proibiram-no de exorcizar em suas dioceses. Enfim Joseph II lançou um rescrito determinando que Gassner deixasse Ratisbona. Mas, fortalecido pela proteção do príncipe bispo dessa cidade, que lhe havia conferido o título de conselheiro eclesiástico, com a função de capelão da corte, ele persistiu. Tal resistência prolongou-se até 1777, época na qual Gassner foi lotado no curato de Bondorf, para onde se retirou e onde morreu a 4 de abril de 1779, com 52 anos.”

OBSERVAÇÃO: O Espiritismo protesta contra a qualificação de taumaturgo dada ao curadores, porque não admite que nada se faça fora das leis naturais. Os fenômenos que pertencem à ordem dos fatos espirituais não são mais miraculosos que os fatos materiais, tendo em vista que o elemento espiritual é uma das forças da Natureza, do mesmo modo que o elemento material. O cura Gassner, portanto, não fazia mais milagres que o príncipe de Hohenlohe e que o zuavo Jacob, e podemos ver singulares semelhanças entre o que se passava então a seu respeito e o que hoje se passa.

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