Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1861

Allan Kardec

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Resposta de Bernardin de Saint-Pierre (Médium: Sra. Costel)

Venho eu, Bernardin de Saint-Pierre, meter-me num debate onde meu nome foi citado, discutido e defendido. Não posso concordar com meu espirituoso defensor: o Sr. de Buffon tem um valor outro, que não o de um compilador eloqüente. Que importam os erros literários de um julgamento sempre tão fino e delicado para as coisas da Natureza e que não foi desviado senão pela rivalidade e o ciúme profissional?

Não obstante, sou de opinião inteiramente contrária à sua e, como Lamennais, digo: Não, o estilo não é o homem. Disto sou uma prova eloqüente, eu, cuja sensibilidade estava inteiramente no cérebro e que inventava o que os outros sentem. Do outro lado da vida julgam-se com frieza as coisas da vida terrena, as coisas acabadas. Não mereço toda a reputação literária de que gozei. Paulo e Virginia, se aparecesse hoje seria facilmente eclipsado por uma quantidade de encantadoras produções que passam inapercebidas. É que o progresso de vossa época é grande, mais do que vós, contemporâneos, o podeis julgar. Tudo se eleva: Ciências, literatura, arte social; mas tudo se eleva como o nível do mar na maré montante, e os marinheiros que estão ao largo não o podem julgar. Estais ao largo.

Volto ao Sr. de Buffon cujo talento louvo e cuja censura esqueço, e também ao meu espirituoso defensor, que sabe descobrir todas as verdades, seus sentidos espirituais, e que lhes dá uma cor paradoxal. Depois de vos haver provado que os literatos mortos não conservam nenhum fel, dirijo-vos todos os meus agradecimentos e, também, meu vivo desejo de poder ser-vos útil.

BERNARDIN de SAINT-PIERRE

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